Monday, May 23, 2005

um excerto assombroso de um livro grande;

...quando se voltou e olhou directamente
para o céu, este parecia muito mais longinquo
do que alguma vez reparara. no entanto,
sentia-se muito próximo de si próprio, talvez
porque um homem para se sentir vivo tinha
primeiro de deixar de pensar em si próprio
como estando sempre a caminho. tinha de
haver uma paragem, esquecer todos os
objectivos. uma voz diz: «espera», mas
normalmente ele não a ouve, porque se
esperar ele atrasa-se. e, se realmente esperar,
pode acontecer que quando começar a
mover-se esteja numa direcção diferente. é
uma ideia assustadora. porque a vida não é um
movimento para ou de qualquer coisa; nem do
passado para o futuro, nem da juventude para a
velhice, nem do nascimento para a morte. o
todo da vida não é igual à soma das suas partes.
é igual a qualquer das partes; não há soma. o
homem adulto não está mais profundamente
envolvido na vida do que um recem-nascido. seja
porque perspectiva for, o resultado é o mesmo:
a vida por si própria, o facto transcendente da
vivência individual.

paul bowles in let it come down

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