devagar, apaguei a tua imagem
para que os olhos recebessem a luz
que deixaste atrás de ti.

(poema de Maria João reynaud com
fotografia de joão mariano)

ontem, em plena fnac, descobri
paisagens sonoras de sonho.



summer at shatter creek - all the answers

um excerto assombroso de um livro grande;

...quando se voltou e olhou directamente
para o céu, este parecia muito mais longinquo
do que alguma vez reparara. no entanto,
sentia-se muito próximo de si próprio, talvez
porque um homem para se sentir vivo tinha
primeiro de deixar de pensar em si próprio
como estando sempre a caminho. tinha de
haver uma paragem, esquecer todos os
objectivos. uma voz diz: «espera», mas
normalmente ele não a ouve, porque se
esperar ele atrasa-se. e, se realmente esperar,
pode acontecer que quando começar a
mover-se esteja numa direcção diferente. é
uma ideia assustadora. porque a vida não é um
movimento para ou de qualquer coisa; nem do
passado para o futuro, nem da juventude para a
velhice, nem do nascimento para a morte. o
todo da vida não é igual à soma das suas partes.
é igual a qualquer das partes; não há soma. o
homem adulto não está mais profundamente
envolvido na vida do que um recem-nascido. seja
porque perspectiva for, o resultado é o mesmo:
a vida por si própria, o facto transcendente da
vivência individual.

paul bowles in let it come down

...the crisis at Leica has deepened in
recent months as sales have slumped
and banks have started to terminate
credit lines.

analysts blame its woes on a tentative
and tardy entry into the digital camera
market as demand for its expensive high
quality analogue equipment has stagnated...

in financial times, 16 abril, 2005

indiferentes ao que se trata,
aposto que nem analistas nem shareholders
sabem do que é capaz este objecto.

a isabel stilwell escreve sobre
uma ideia muito interessante:

as lágrimas são uma coisa tão
bem inventada! revelam um
momento de inspiração e de génio.

hoje, as primeiras 9 páginas
do publico eram dedicadas a
negocios sob investigação.

viver reparte-se entre a fuga
do dia anterior e a procura que
se faz no dia que ai está, ganho à escuridão.

a todos nós é exigida a escolha de uma
rota que se faz de contínuas colisões. admito
que tenho dias que fujo, fujo de medo de uma
penumbra que osculto de forma instintiva,
quase sem querer...

a luz, mesmo que ténue - a minha penumbra,
é mais importante. é nas viagens que a encontro.
a verdadeira.

"o mundo é um paisagem devastada
pela harmonia." paulo nozolino em
serralves até julho.

este logo silencio significa perda.
viajar. estar sozinho. isolar-me
para me encontrar. em Tanger,
nas igrejas de lallibela ou num
vagão do trans-siberiano...